Por LUIS FELIPE DOS SANTOS
Era uma vez uma Mercedes-Benz.
Ela era linda, em cinza metálico, com as melhores peças do mercado.
Causava inveja em muita gente.
Foi vendida para uns paulistas metidos à besta por um cara que falava inglês, de nacionalidade indefinida, e que garantiu ser o melhor carro de todos.
Botou gasolina, rodas de liga leve, bancos de couro, fez realmente um lindo carro.
A tal Mercedes foi disputar uma corrida.
Contra vários ônibus.
Como todos sabemos, um carro esporte sempre vai levar vantagem contra ônibus.
Um carro esporte da Mercedes, mais ainda.
Um carro esporte todo reformado, nos trinques, e com a marca da Mercedes? Sem chance para os outros.
No entanto, a corrida era longa, era preciso resistência.
Quem liderava era um ônibus vermelho.
Humilde, vindo do Sul, dirigido por um visionário, co-pilotado por um cara meio turrão e com uma equipe média, mas ajustadinha.
Era levada adiante com muita fé, coração e garra da sua torcida, que nunca deixava de acreditar.
Até que em um momento, reuniram todas as equipes numa salinha e disseram:
"É o seguinte, competidores. Duas das baterias em que a Mercedes perdeu não valeram. Ela vai ter que correr de novo."
Muitos chiaram, a torcida protestou, a corrida foi colocada sob suspeita.
O ônibus vermelho perdeu a liderança para a Mercedes por causa das duas baterias.
A disputa seguia acirrada, quando em uma determinada bateria, o ônibus vermelho emparelhou com a Mercedes.
Quando iria fazer a ultrapassagem, a direção da prova deu a bandeira amarela e proibiu a manobra.
É claro, o piloto do ônibus vermelho reclamou.
E o dono da Mercedes respondeu, com enorme prepotência: "Infelizmente, tem gente que pode ter uma Mercedes, enquanto outros precisam andar de ônibus pela vida toda"
Dois anos depois daquela corrida, está sendo disputada outra.
O tal do ônibus vermelho carrega na frente uma coroa, pois ganhou outras corridas pela América e pelo Mundo.
Segue faceiro seu rumo, sem muito compromisso, quando olha para o lado e vê, na grama, um carro bem conhecido.
É a Mercedes.
Não tem mais gasolina; o combustível era adulterado.
Não tem mais as rodas de liga-leve, que eram roubadas.
Não tem mais os bancos de couro, que se desmancharam, pois eram falsificados.
Nem a pintura metálica tem mais. Está acabada, arruinada, em um canto da pista.
Não consegue sequer completar a prova. Está prestes a sair da corrida. Ainda dá tempo para bater o carro azul, mas ninguém acredita que ela consiga sair da areia.
O ônibus vermelho pode ser a última chance.
O dono do Mercedes, sujo, esfarrapado e acabado, pede em lágrimas para o comandante do ônibus, com um gancho de reboque na mão:
"Me ajuda?"
O piloto do ônibus apenas sorri. O mundo, meus amigos, dá muitas voltas.
O final dessa história vamos saber no fim da tarde de domingo.
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